PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS
Gestão Da Cultura Organizacional Da Escola
- Aluno : Tiago Mateus
- Professor : Sérgio de Freitas Oliveira
- Capítulo : 09

“Somos o que pensamos”, uma vez que, de acordo com o nosso pensamento, nos orientamos para sentir e agir de uma determinada forma, criando e reforçando as condições que nos rodeiam.
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Competências da gestão da cultura organizacional da escola
O DIRETOR:
75. Promove na escola um ambiente orientado por valores, crenças,
rituais, percepções, comportamentos e atitudes em consonância com os
fundamentos e objetivos legais e conceituais da educação e elevadas
aspirações da sociedade.
76. Realiza inventário e avalia a
cultura organizacional existente na escola, identificando suas
fortalezas e desafios em relação à compatibilidade com as condições
necessárias à aprendizagem e formação dos alunos.
77.
Identifica e compreende as expressões de preconceitos e
tendenciosidades prejudiciais à formação e aprendizagem de todos os
alunos e as práticas educacionais convergentes necessárias para esses
objetivos.
78. Influencia positivamente o modo institucionalizado de pensar dos
participantes da comunidade escolar, fazendo-o convergir em torno do
ideário educacional formulado para orientar a ação educacional da
escola.
79. Analisa as forças de poder existentes na escola, os valores que as
orientam e seu papel na escola e age fazendo-as convergir para o
empoderamento conjunto de todos e da escola.
80.
Estabelece na escola um modo de ser e de fazer dinâmico, positivo,
aberto e orientado para sua contínua transformação na construção de
ambiente educacional positivo em que a aprendizagem é um valor.
81. Promove a convergência entre os valores educacionais e
as práticas cotidianas da escola, de modo que estas os traduzam e
expressem, mediante a maior convergência possível.
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Uma escola é uma organização social construída pelas interações das
pessoas que dela fazem parte, orientadas pelos seus valores, crenças,
mitos e rituais. Uma escola, em seu sentido pleno e em sua essência, é
uma realidade construída socialmente, pela representação que dela
fazem seus membros.
Segundo Lins (2000, p. 446), uma
escola é uma organização social viva, determinada por seu modo de ser
e de fazer dinamicamente orientado pelas crenças e orientações mentais
de quem faz parte de seu ambiente, muito mais do que por regras e
relações definidas formalmente. Esses valores, crenças, mitos e
rituais existentes na escola determinam, pois, seu modo de ser e de
fazer, isto é, a cultura organizacional da escola.
Portanto, a escola não corresponde ao seu prédio e suas condições
físicas e materiais, nem ao conjunto das pessoas que nela trabalham,
e sim ao “caldo cultural” promovido pelo modo de ser e de fazer na
interação dessas pessoas.
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O que é cultura organizacional
O conceito de cultura organizacional se refere, pois, às práticas
regulares e habituais da escola, à sua personalidade coletivamente
construída e amalgamada, a partir do modo como as pessoas, em
conjunto, pensam sobre a escola como um todo; sobre o papel que a
escola representa em sua comunidade e na sociedade em geral; sobre o
papel individual e coletivo das atuações de seus participantes. Também
se refere aos valores que expressam e traduzem em seus discursos
comuns, em suas ações cotidianas e em sua comunicação e relacionamento
interpessoal regularmente estabelecidos.
Quando falamos em cultura organizacional, estamos nos referindo
tipicamente ao padrão de desenvolvimento refletido no sistema de
conhecimento, ideologia, valores, leis e rituais do dia-a-dia de uma
organização (Morgan, in Lins, 2000).
Como a cultura organizacional é o conjunto de hábitos e crenças
estabelecidos por valores, atitudes e expectativas compartilhados por
todos os membros da organização, ela se refere ao sistema de
significados compartilhados por todos os membros e que distingue uma
organização das demais. Constitui o modo institucionalizado de pensar
e agir que existe em uma organização.
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Como é formada a cultura organizacional

A cultura organizacional envolve um conjunto de elementos
interatuantes, aprendidos coletivamente na prática escolar e
formadores de um todo único. Dentre esses elementos, destacam-se:
1) Ideário ou Preceitos, expressos por crenças, pressupostos, normas
tácitas, padrões de comportamento, hábitos de pensamento, modelos
mentais, padrões lingüísticos, valores, códigos informais e
regulamentos em prática, hábitos e costumes, muitos dos quais
implícitos e não escritos.
2) Tecnologia, caracterizada pelo conjunto de processos e modo de
fazer as coisas − o seu saber fazer −, o seu modo de organizar e
compartilhar responsabilidades, de usar o tempo, que extrapola as
proposições formais de cronograma.
3) Caráter, constituído pelo sentimento e reações das pessoas sobre
todo o conjunto de coisas e sobre o seu papel no contexto delas.
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O papel do diretor na construção de cultura escolar de caráter educativo
Ao diretor escolar, responsável pela influência intencional e
sistemática da escola sob sua responsabilidade, cabe, portanto, o
papel da liderança que consiste em levar os seus participantes a
focalizar os aspectos importantes da experiência, identificar as suas
características, analisar seus resultados sob o enfoque dos objetivos
educacionais, orientar o grupo na revisão de seu desempenho, suas
competências, hábitos de pensamento, atitudes, etc., à luz daqueles
objetivos e valores educacionais.
Sem essa liderança, ocorre na escola a formação de uma cultura
caracterizada por concepções e ações centradas em interesses pessoais,
por tendências imediatistas e reativas, em vez de por interesses
socioeducacionais com foco no desenvolvimento dos alunos. Os ambientes
em que os gestores hesitam em exercer liderança nesse sentido, passam
a ser objeto da criação de regularidades em que interesses individuais
ou corporativos têm primazia inadequada e ilegítima como um direito
funcional, em detrimento dos interesses de aprendizagem e formação dos
alunos.
Essas características passam então a ser
subliminarmente socializadas para os novos membros da escola, que são
influenciados a aceitá-las e assumi-las, ocorrendo então o reforço à
consistência e estabilidade do modo de ser e de fazer estabelecido,
mesmo que em contradição aos propósitos educacionais.
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Tem sido destacado que o desempenho de professores é determinado muito
mais pelos elementos e características da cultura organizacional da
escola, do que por oportunidades formais de aprendizagem de novas
formas de desempenho em cursos e oficinas de capacitação. Isto é, a
vivência cotidiana tem demonstrado ser mais efetiva na determinação de
como agem os profissionais do que por cursos de capacitação de que
participam.
Sem desqualificar a importância dos cursos de capacitação, sempre
necessários para a atualização da competência dos profissionais em
educação, é necessário reconhecer o impacto que a cultura
organizacional exerce na conservação do statu quo. Professores têm
indicado que saem de seus cursos entusiasmados e com a firme intenção
de pôr em prática suas aprendizagens, mas que, ao chegar à escola,
“encontram tudo do mesmo jeito”.
Esse fato, portanto, indica a importância de se investir no
aprimoramento da cultura organizacional da escola, como condição
para a melhoria de desempenho de seus profissionais e consequente
qualidade do ensino.
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O diretor escolar, ao assumir as responsabilidades de seu cargo,
assume necessariamente, a responsabilidade de liderar a formação de
cultura escolar compatível com a necessária para que o ambiente
escolar seja estimulante e adequado para a formação de seus alunos.
A partir de atuação nesse sentido, orienta o curso dos eventos e
ações; ajuda as demais pessoas a fazerem sentido desses eventos, a
retirarem lições das ações em que se envolvem, estabiliza as soluções
bem-sucedidas, disseminado-as; organiza os processos e interações
sociais, tornando-os estimulantes.
Fazê-lo, no entanto, depende de estar atento às múltiplas expressões
da cultura vigente, de modo a conhecer e compreender a sua natureza, a
sua dinâmica os seus resultados; compreender como as pessoas
representam o seu trabalho e o seu papel na escola, a partir do que
orientam a sua atuação. No entanto, paradoxalmente, nem sempre ocorre
na escola essa liderança exercida em favor da qualidade do ensino e
bem-estar dos alunos, em nome da educação e do papel social da escola.
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É possível observar em escolas, diretores exercendo papéis
burocráticos de controle e cobrança, ou ainda, papéis formais de
representação, sem um esforço deliberado e comprometido em exercer
influência sobre a organização social da escola como um todo e a
orientação para a realização dos objetivos educacionais.
Por comodismo, por receio de enfrentar dificuldades, por medo de
desestabilizar poderes constituídos, omitem-se em assumir suas
responsabilidades. Dessa forma, deixam o espaço da liderança para
outras pessoas que, no entanto, podem fazê-la algumas vezes, sem o
sentido global da ação educacional e uma concepção abrangente da
educação, dentre outros preceitos essenciais à gestão escolar.
Quando
um grupo é envolvido em uma experiência organizada de modo a obter
sucesso, mesmo que este venha a ser parcial, na medida em que o líder
identifica e torna visível esse sucesso e reforça o caráter coletivo
dessa realização, dá início a um processo de mudança de orientação
cognitiva do grupo para o sucesso e criação de uma crença entre os
participantes da escola, no sentido fundamental de autoria e
responsabilidade pelos seus feitos.
Identifica-se que a cultura é um conceito abstrato e que existe na
subjetividade das pessoas que compõem a escola e a influenciam pelo
seu modo coletivo de pensar: “somos e agimos a partir do modo como
pensamos”. Uma vez que aquela representação determina, em grande
parte, o modo como as pessoas agem na escola e nela se orientam, é de
grande importância conhecer, pela sua representação, a cultura da
escola. Como também a cultura organizacional da escolas é dinâmica e
se constitui num fenômeno vivo e ativo no qual as pessoas se renovam e
criam relações múltiplas para manter seu ideário, há na cultura um
elemento de permanência, mas também um elemento evolutivo que encobre
e dissimula a subjetividade, daí porque, a compreensão da cultura
organizacional ser desafiadora.
A essência da cultura de uma escola é expressa pela maneira como ela
promove o processo ensino-aprendizagem, a maneira como ela trata seus
alunos, o grau de autonomia ou liberdade que existe em suas unidades e
o grau de lealdade expresso por todos em relação à escola e à
educação. A cultura organizacional representa as percepções dos
gestores, professores e funcionários da escola e reflete a mentalidade
que predomina na organização. Por esta razão, ela condiciona a getão
das pessoas.
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A diferença entre os objetivos educacionais e os objetivos expressos na cultura escolar

Como a cultura organizacional da escola representa as normas informais
e não escritas que orientam o comportamento dos membros da escola no
dia-a-dia e que direcionam suas ações para o alcance dos objetivos tal
como entendidos pela coletividade, em última instância é essa cultura
que, em grande parte, determina os objetivos realmente adotados na
escola.
Tal como se observa muitas vezes, os objetivos expressos pela
coletividade nem sempre estão em alinhamento com os objetivos
educacionais propostos pelos sistemas de ensino e pela literatura
educacional. Essa discrepância é comumente observável em atitudes
individualistas e corporativistas que de certa forma existe em muitas
escolas, prejudicando a qualidade do seu ensino. De modo geral, essa
condição é forte em escolas e sistemas de ensino onde a liderança pela
realização dos objetivos educacionais é fraca ou pouco focada, seja
por omissão diante de problemas que surgem, seja por falta de
competência em lidar com dificuldades, tensão e conflito, condições
relacionadas com essas questões.
É necessário reconhecer que, de certa forma, e em certa medida,
sempre existirá alguma discrepância entre os objetivos educacionais
formalmente postos nos sistemas de ensino e os praticados pela
cultura escolar. Isso porque aqueles objetivos são exógenos, isto é,
definidos fora da escola por legisladores, teóricos e líderes
educacionais a partir de entendimento global e abrangente a respeito
do ideário educacional e os fatores que contribuem para sua
efetividade (Sander, 1977).
Em vista disso, ao definirem suas proposições, o fazem levando em
consideração não como a escola é, mas como deve ser; não o que faz,
mas o que deve fazer; não como faz, mas como deve fazer, criando uma
distância entre a realidade e o ideal do processo educativo
Vale dizer que as proposições educacionais exógenas visam orientar o
desenvolvimento e a promover mudanças necessárias para estabelecer
unidade entre as ações de todas as escolas, de modo a garantir a
qualidade de ensino, segundo os princípios democráticos da educação,
daí porque sua importância e o seu papel de alterar culturas
conservadoras estabelecidas na escola, que se esforçam por preservar o
statu quo. Destaque-se ainda o fato de que o próprio sentido da
educação é o da mudança e do desenvolvimento a partir da formação e
aprendizagem, o que, numa sociedade em contínua dinâmica de mudança,
pressupõe contínuos movimentos de superação das condições vigentes.
O grande desafio do diretor escolar constitui-se, portanto, em atuar
de modo a conhecer os valores, mitos e crenças que orientam as ações
das pessoas que atuam na escola e como se reforçam reciprocamente e,
em que medida esses aspectos desassociam ou distanciam dos objetivos,
princípios e diretrizes educacionais. E ainda, em compreender como sua
própria postura intere nesse processo, para então, atuar de modo a
promover a superação do distanciamento porventura existente entre os
valores vigentes e os objetivos educacionais.
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O papel do poder na cultura organizacional
Uma característica importante da cultura de uma organização é o jogo de poder que nela se estabelece, pelo qual é definido o poder de influência de uns sobre outros, de modo impositivo e mais ou menos contínuo, a partir de condições como personalidade, tempo de serviço, nível de formação, cargo ocupado, etc. Esse poder, decidido e exercido sem ter em consideração como critério de decisão os interesses do aluno e os elevados objetivos educacionais se caracteriza, muito comumente, por uma lógica perde-ganha² que resulta em um jogo de disputas e de acomodações, em prejuízo da qualidade do processo educacional.
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Compreensão das relações de poder na escola

Torna-se fundamental, portanto, que, em cada escola, se examine e se
compreenda as relações de poder nela estabelecidas, no sentido de
redefini-las, em nome de um processo participativo voltado para a
melhoria da qualidade do ensino e o interesse de promover formação
educacional de qualidade para seus alunos.
- Como se processa o jogo de poder nas interações e associações
estabelecidas na escola?
- Quem tem poder de influência
sobre quem, sobre o quê, e com que objetivo?
- Como é
exercido esse poder?
- Como se forma e se desenvolvem as relações de poder na escola e o
que as mantém?
- Como são percebidas essas relações de poder pelos membros da escola
e quais suas reações a respeito?
- Como se manifestam as reações ao poder não aceito (contrapoder)?
- O que legitima o exercício de poder vigente?
- Qual a consciência dentre os membros da unidade social escolar, do
poder real que exercem e poder potencial que possuem?
- Quais as energias existentes na comunidade escolar que podem ser
maximizadas e empregadas para construir a perspectiva do poder de
“ganha-ganha”?
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O conhecimento da cultura: uma condição para atuar sobre ela
O empenho em conhecer a cultura organizacional da escola representa o
esforço no sentido de compreender a sua personalidade, que explicita
as intenções reais por trás das ações e reações. Sem esse conhecimento
se torna impossível promover mudanças na escola e alinhar sua cultura
com propostas educacionais mais amplas. Não levar em consideração a
cultura escolar, a sua personalidade, resulta em provocar resistências
e desconsiderar a possibilidade de canalizar positivamente as energias
nela presentes.
A literatura identifica que a cultura tem um caráter duradouro, sendo
construída pela sequência de momentos, em vista do que, é melhor
conhecê-la efetivamente, por meio de investigação contínua, que
acompanhe a escola ao longo do tempo, para verificar a permanência ou
não dos fatores que a expressam a cultura.
Portanto, o esforço por conhecer a cultura escolar implica em realizar
trabalho de observação continuada e registro sistemático de
informações que conhecer dentre outros aspectos:
• Quais as principais características da cultura organizacional da
escola?
• Quais as maiores tendências de seu modo de ser e de fazer?
•
Como agem as pessoas em seu interior?
• Que valores essas ações
expressam?
• Como e em que medida esse modo de agir é
determinado pelo sentido educacional?
• Quais os valores mais
comumente praticados na escola?
• Em que medida eles estão
próximos ou distantes dos objetivos educacionais propostos?
• Em que medida a missão, visão e valores da escola estão expressos
nas atitudes dos professores e funcionários da escola?
• Como e
em que medida o modo de agir e de falar das pessoas no cotidiano
escolar é compatível com o sentido educacional?
• Na medida que
haja discrepância relevante, o que explicaria essa discrepância?
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