PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS

Gestão Da Cultura Organizacional Da Escola

“Somos o que pensamos”, uma vez que, de acordo com o nosso pensamento, nos orientamos para sentir e agir de uma determinada forma, criando e reforçando as condições que nos rodeiam.

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Competências da gestão da cultura organizacional da escola
O DIRETOR:

75. Promove na escola um ambiente orientado por valores, crenças, rituais, percepções, comportamentos e atitudes em consonância com os fundamentos e objetivos legais e conceituais da educação e elevadas aspirações da sociedade.

76. Realiza inventário e avalia a cultura organizacional existente na escola, identificando suas fortalezas e desafios em relação à compatibilidade com as condições necessárias à aprendizagem e formação dos alunos.

77. Identifica e compreende as expressões de preconceitos e tendenciosidades prejudiciais à formação e aprendizagem de todos os alunos e as práticas educacionais convergentes necessárias para esses objetivos.

78. Influencia positivamente o modo institucionalizado de pensar dos participantes da comunidade escolar, fazendo-o convergir em torno do ideário educacional formulado para orientar a ação educacional da escola.

79. Analisa as forças de poder existentes na escola, os valores que as orientam e seu papel na escola e age fazendo-as convergir para o empoderamento conjunto de todos e da escola.

80. Estabelece na escola um modo de ser e de fazer dinâmico, positivo, aberto e orientado para sua contínua transformação na construção de ambiente educacional positivo em que a aprendizagem é um valor.

81. Promove a convergência entre os valores educacionais e as práticas cotidianas da escola, de modo que estas os traduzam e expressem, mediante a maior convergência possível.

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Uma escola é uma organização social construída pelas interações das pessoas que dela fazem parte, orientadas pelos seus valores, crenças, mitos e rituais. Uma escola, em seu sentido pleno e em sua essência, é uma realidade construída socialmente, pela representação que dela fazem seus membros.

Segundo Lins (2000, p. 446), uma escola é uma organização social viva, determinada por seu modo de ser e de fazer dinamicamente orientado pelas crenças e orientações mentais de quem faz parte de seu ambiente, muito mais do que por regras e relações definidas formalmente. Esses valores, crenças, mitos e rituais existentes na escola determinam, pois, seu modo de ser e de fazer, isto é, a cultura organizacional da escola.

Portanto, a escola não corresponde ao seu prédio e suas condições físicas e materiais, nem ao conjunto das pessoas que nela trabalham, e sim ao “caldo cultural” promovido pelo modo de ser e de fazer na interação dessas pessoas.

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O que é cultura organizacional

O conceito de cultura organizacional se refere, pois, às práticas regulares e habituais da escola, à sua personalidade coletivamente construída e amalgamada, a partir do modo como as pessoas, em conjunto, pensam sobre a escola como um todo; sobre o papel que a escola representa em sua comunidade e na sociedade em geral; sobre o papel individual e coletivo das atuações de seus participantes. Também se refere aos valores que expressam e traduzem em seus discursos comuns, em suas ações cotidianas e em sua comunicação e relacionamento interpessoal regularmente estabelecidos.

Quando falamos em cultura organizacional, estamos nos referindo tipicamente ao padrão de desenvolvimento refletido no sistema de conhecimento, ideologia, valores, leis e rituais do dia-a-dia de uma organização (Morgan, in Lins, 2000).

Como a cultura organizacional é o conjunto de hábitos e crenças estabelecidos por valores, atitudes e expectativas compartilhados por todos os membros da organização, ela se refere ao sistema de significados compartilhados por todos os membros e que distingue uma organização das demais. Constitui o modo institucionalizado de pensar e agir que existe em uma organização.

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Como é formada a cultura organizacional

A cultura organizacional envolve um conjunto de elementos interatuantes, aprendidos coletivamente na prática escolar e formadores de um todo único. Dentre esses elementos, destacam-se:

1) Ideário ou Preceitos, expressos por crenças, pressupostos, normas tácitas, padrões de comportamento, hábitos de pensamento, modelos mentais, padrões lingüísticos, valores, códigos informais e regulamentos em prática, hábitos e costumes, muitos dos quais implícitos e não escritos.

2) Tecnologia, caracterizada pelo conjunto de processos e modo de fazer as coisas − o seu saber fazer −, o seu modo de organizar e compartilhar responsabilidades, de usar o tempo, que extrapola as proposições formais de cronograma.

3) Caráter, constituído pelo sentimento e reações das pessoas sobre todo o conjunto de coisas e sobre o seu papel no contexto delas.

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O papel do diretor na construção de cultura escolar de caráter educativo

Ao diretor escolar, responsável pela influência intencional e sistemática da escola sob sua responsabilidade, cabe, portanto, o papel da liderança que consiste em levar os seus participantes a focalizar os aspectos importantes da experiência, identificar as suas características, analisar seus resultados sob o enfoque dos objetivos educacionais, orientar o grupo na revisão de seu desempenho, suas competências, hábitos de pensamento, atitudes, etc., à luz daqueles objetivos e valores educacionais.

Sem essa liderança, ocorre na escola a formação de uma cultura caracterizada por concepções e ações centradas em interesses pessoais, por tendências imediatistas e reativas, em vez de por interesses socioeducacionais com foco no desenvolvimento dos alunos. Os ambientes em que os gestores hesitam em exercer liderança nesse sentido, passam a ser objeto da criação de regularidades em que interesses individuais ou corporativos têm primazia inadequada e ilegítima como um direito funcional, em detrimento dos interesses de aprendizagem e formação dos alunos.

Essas características passam então a ser subliminarmente socializadas para os novos membros da escola, que são influenciados a aceitá-las e assumi-las, ocorrendo então o reforço à consistência e estabilidade do modo de ser e de fazer estabelecido, mesmo que em contradição aos propósitos educacionais.

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Tem sido destacado que o desempenho de professores é determinado muito mais pelos elementos e características da cultura organizacional da escola, do que por oportunidades formais de aprendizagem de novas formas de desempenho em cursos e oficinas de capacitação. Isto é, a vivência cotidiana tem demonstrado ser mais efetiva na determinação de como agem os profissionais do que por cursos de capacitação de que participam.

Sem desqualificar a importância dos cursos de capacitação, sempre necessários para a atualização da competência dos profissionais em educação, é necessário reconhecer o impacto que a cultura organizacional exerce na conservação do statu quo. Professores têm indicado que saem de seus cursos entusiasmados e com a firme intenção de pôr em prática suas aprendizagens, mas que, ao chegar à escola, “encontram tudo do mesmo jeito”.

Esse fato, portanto, indica a importância de se investir no aprimoramento da cultura organizacional da escola, como condição para a melhoria de desempenho de seus profissionais e consequente qualidade do ensino.

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O diretor escolar, ao assumir as responsabilidades de seu cargo, assume necessariamente, a responsabilidade de liderar a formação de cultura escolar compatível com a necessária para que o ambiente escolar seja estimulante e adequado para a formação de seus alunos.

A partir de atuação nesse sentido, orienta o curso dos eventos e ações; ajuda as demais pessoas a fazerem sentido desses eventos, a retirarem lições das ações em que se envolvem, estabiliza as soluções bem-sucedidas, disseminado-as; organiza os processos e interações sociais, tornando-os estimulantes.

Fazê-lo, no entanto, depende de estar atento às múltiplas expressões da cultura vigente, de modo a conhecer e compreender a sua natureza, a sua dinâmica os seus resultados; compreender como as pessoas representam o seu trabalho e o seu papel na escola, a partir do que orientam a sua atuação. No entanto, paradoxalmente, nem sempre ocorre na escola essa liderança exercida em favor da qualidade do ensino e bem-estar dos alunos, em nome da educação e do papel social da escola.

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É possível observar em escolas, diretores exercendo papéis burocráticos de controle e cobrança, ou ainda, papéis formais de representação, sem um esforço deliberado e comprometido em exercer influência sobre a organização social da escola como um todo e a orientação para a realização dos objetivos educacionais. Por comodismo, por receio de enfrentar dificuldades, por medo de desestabilizar poderes constituídos, omitem-se em assumir suas responsabilidades. Dessa forma, deixam o espaço da liderança para outras pessoas que, no entanto, podem fazê-la algumas vezes, sem o sentido global da ação educacional e uma concepção abrangente da educação, dentre outros preceitos essenciais à gestão escolar.

Quando um grupo é envolvido em uma experiência organizada de modo a obter sucesso, mesmo que este venha a ser parcial, na medida em que o líder identifica e torna visível esse sucesso e reforça o caráter coletivo dessa realização, dá início a um processo de mudança de orientação cognitiva do grupo para o sucesso e criação de uma crença entre os participantes da escola, no sentido fundamental de autoria e responsabilidade pelos seus feitos.

Identifica-se que a cultura é um conceito abstrato e que existe na subjetividade das pessoas que compõem a escola e a influenciam pelo seu modo coletivo de pensar: “somos e agimos a partir do modo como pensamos”. Uma vez que aquela representação determina, em grande parte, o modo como as pessoas agem na escola e nela se orientam, é de grande importância conhecer, pela sua representação, a cultura da escola. Como também a cultura organizacional da escolas é dinâmica e se constitui num fenômeno vivo e ativo no qual as pessoas se renovam e criam relações múltiplas para manter seu ideário, há na cultura um elemento de permanência, mas também um elemento evolutivo que encobre e dissimula a subjetividade, daí porque, a compreensão da cultura organizacional ser desafiadora.

A essência da cultura de uma escola é expressa pela maneira como ela promove o processo ensino-aprendizagem, a maneira como ela trata seus alunos, o grau de autonomia ou liberdade que existe em suas unidades e o grau de lealdade expresso por todos em relação à escola e à educação. A cultura organizacional representa as percepções dos gestores, professores e funcionários da escola e reflete a mentalidade que predomina na organização. Por esta razão, ela condiciona a getão das pessoas.

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A diferença entre os objetivos educacionais e os objetivos expressos na cultura escolar

Como a cultura organizacional da escola representa as normas informais e não escritas que orientam o comportamento dos membros da escola no dia-a-dia e que direcionam suas ações para o alcance dos objetivos tal como entendidos pela coletividade, em última instância é essa cultura que, em grande parte, determina os objetivos realmente adotados na escola.

Tal como se observa muitas vezes, os objetivos expressos pela coletividade nem sempre estão em alinhamento com os objetivos educacionais propostos pelos sistemas de ensino e pela literatura educacional. Essa discrepância é comumente observável em atitudes individualistas e corporativistas que de certa forma existe em muitas escolas, prejudicando a qualidade do seu ensino. De modo geral, essa condição é forte em escolas e sistemas de ensino onde a liderança pela realização dos objetivos educacionais é fraca ou pouco focada, seja por omissão diante de problemas que surgem, seja por falta de competência em lidar com dificuldades, tensão e conflito, condições relacionadas com essas questões.

É necessário reconhecer que, de certa forma, e em certa medida, sempre existirá alguma discrepância entre os objetivos educacionais formalmente postos nos sistemas de ensino e os praticados pela cultura escolar. Isso porque aqueles objetivos são exógenos, isto é, definidos fora da escola por legisladores, teóricos e líderes educacionais a partir de entendimento global e abrangente a respeito do ideário educacional e os fatores que contribuem para sua efetividade (Sander, 1977). Em vista disso, ao definirem suas proposições, o fazem levando em consideração não como a escola é, mas como deve ser; não o que faz, mas o que deve fazer; não como faz, mas como deve fazer, criando uma distância entre a realidade e o ideal do processo educativo

Vale dizer que as proposições educacionais exógenas visam orientar o desenvolvimento e a promover mudanças necessárias para estabelecer unidade entre as ações de todas as escolas, de modo a garantir a qualidade de ensino, segundo os princípios democráticos da educação, daí porque sua importância e o seu papel de alterar culturas conservadoras estabelecidas na escola, que se esforçam por preservar o statu quo. Destaque-se ainda o fato de que o próprio sentido da educação é o da mudança e do desenvolvimento a partir da formação e aprendizagem, o que, numa sociedade em contínua dinâmica de mudança, pressupõe contínuos movimentos de superação das condições vigentes.

O grande desafio do diretor escolar constitui-se, portanto, em atuar de modo a conhecer os valores, mitos e crenças que orientam as ações das pessoas que atuam na escola e como se reforçam reciprocamente e, em que medida esses aspectos desassociam ou distanciam dos objetivos, princípios e diretrizes educacionais. E ainda, em compreender como sua própria postura intere nesse processo, para então, atuar de modo a promover a superação do distanciamento porventura existente entre os valores vigentes e os objetivos educacionais.

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O papel do poder na cultura organizacional

Uma característica importante da cultura de uma organização é o jogo de poder que nela se estabelece, pelo qual é definido o poder de influência de uns sobre outros, de modo impositivo e mais ou menos contínuo, a partir de condições como personalidade, tempo de serviço, nível de formação, cargo ocupado, etc. Esse poder, decidido e exercido sem ter em consideração como critério de decisão os interesses do aluno e os elevados objetivos educacionais se caracteriza, muito comumente, por uma lógica perde-ganha² que resulta em um jogo de disputas e de acomodações, em prejuízo da qualidade do processo educacional.

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Compreensão das relações de poder na escola

Torna-se fundamental, portanto, que, em cada escola, se examine e se compreenda as relações de poder nela estabelecidas, no sentido de redefini-las, em nome de um processo participativo voltado para a melhoria da qualidade do ensino e o interesse de promover formação educacional de qualidade para seus alunos.

- Como se processa o jogo de poder nas interações e associações estabelecidas na escola?

- Quem tem poder de influência sobre quem, sobre o quê, e com que objetivo?

- Como é exercido esse poder?

- Como se forma e se desenvolvem as relações de poder na escola e o que as mantém?

- Como são percebidas essas relações de poder pelos membros da escola e quais suas reações a respeito?

- Como se manifestam as reações ao poder não aceito (contrapoder)?

- O que legitima o exercício de poder vigente?

- Qual a consciência dentre os membros da unidade social escolar, do poder real que exercem e poder potencial que possuem?

- Quais as energias existentes na comunidade escolar que podem ser maximizadas e empregadas para construir a perspectiva do poder de “ganha-ganha”?

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O conhecimento da cultura: uma condição para atuar sobre ela

O empenho em conhecer a cultura organizacional da escola representa o esforço no sentido de compreender a sua personalidade, que explicita as intenções reais por trás das ações e reações. Sem esse conhecimento se torna impossível promover mudanças na escola e alinhar sua cultura com propostas educacionais mais amplas. Não levar em consideração a cultura escolar, a sua personalidade, resulta em provocar resistências e desconsiderar a possibilidade de canalizar positivamente as energias nela presentes.

A literatura identifica que a cultura tem um caráter duradouro, sendo construída pela sequência de momentos, em vista do que, é melhor conhecê-la efetivamente, por meio de investigação contínua, que acompanhe a escola ao longo do tempo, para verificar a permanência ou não dos fatores que a expressam a cultura.

Portanto, o esforço por conhecer a cultura escolar implica em realizar trabalho de observação continuada e registro sistemático de informações que conhecer dentre outros aspectos:

• Quais as principais características da cultura organizacional da escola?
• Quais as maiores tendências de seu modo de ser e de fazer?
• Como agem as pessoas em seu interior?
• Que valores essas ações expressam?
• Como e em que medida esse modo de agir é determinado pelo sentido educacional?
• Quais os valores mais comumente praticados na escola?
• Em que medida eles estão próximos ou distantes dos objetivos educacionais propostos?
• Em que medida a missão, visão e valores da escola estão expressos nas atitudes dos professores e funcionários da escola?
• Como e em que medida o modo de agir e de falar das pessoas no cotidiano escolar é compatível com o sentido educacional?
• Na medida que haja discrepância relevante, o que explicaria essa discrepância?

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Fim.